A chegada ao Fundamental II envolve uma série de desafios referentes às várias novidades que caracterizam esse momento. De um lado, alunos preocupados em se organizar diante de uma nova grade curricular e das múltiplas linguagens e modos de abordagem; de outro, professores dedicados a romper essa fronteira, propondo experiências enredadas a fim de abordar o conhecimento sem fragmentações e limitações.
Num momento em que o ambiente social e a construção das subjetividades ganham novos contornos, cultivar o impulso à investigação e o vínculo pelo conhecimento tornam-se um desafio constante para o nosso segmento.
A sistematização dos registros, principalmente através dos RAs (registros de autoria), se intensificam e ganham destaque à medida que se revela como instrumento de experimentação autoral e de estabelecimento de relações entre as áreas do conhecimento. Assim, o curso assume um caráter autoral e único, que se modifica a cada ano, a cada novo percurso, a cada nova investigação. Um de nossos objetivos é que o estudante termine o ciclo sendo capaz de olhar seu percurso de maneira reflexiva e consciente.
A reivindicação de sua produção (escrita, sonora, corporal) se baseia na criatividade e no desenvolvimento do pensamento. O reconhecimento de discursos e narrativas em cada obra estimula a percepção dos múltiplos pontos de vista sobre um assunto e convida o aluno ao posicionamento crítico.
Para conhecer, é preciso sentir, vivenciar, experimentar. A experiência é a base de nossas buscas. Seja na sensação corporal experimentada pelo leitor no contato com o texto; nos movimentos ensaiados durante a dança; nas brincadeiras e os jogos cotidianos; na convivência social; na sugestão de novas formas para resolver problemas, ou mesmo na proposição de novos problemas, estamos sempre experimentando.
E aprendemos o quê? A curiosidade, o desejo por saber, nos leva a investigar, de maneira crítica, profunda e complexa, problemas genuínos do mundo físico e de mundos insólitos que povoam nossa imaginação. As respostas encontradas são sempre provisórias e propulsoras de novas dúvidas e inquietações que, por sua vez, geram novas investigações. Assim, estamos sempre em movimento. Ensaiamos.
A educação ensaística proporciona prazer, desejo pelo conhecimento, nunca terminado, nunca acabado, sempre por vir. Conhecimento em construção, que se faz coletivamente, de maneira contextualizada, reflexiva, enredada e extremamente significativa. Provocar, instigar, estimular é papel dos professores, que se lançam com os alunos por caminhos labirínticos, em busca do saboroso saber.
No Fundamental II, o aluno experimenta um movimento que passa pela construção da autonomia e experimentação da autoria. Alunos e professores também criam, elaboram, enredam suas ideias: somos produtores de textos. Textos verbais ou extra-verbais, orais ou escritos, estamos sempre concretizando nossos pensamentos, tecendo nossas narrativas.
Uma cartografia do pensamento - descrição poética
Pensar não é buscar a verdade, mas sim, criar.
Michel Serres escreveu: cabe à educação inventar.
Sejamos poetas!
Se estamos mergulhados no cansaço e no excesso, o que de fato é essencial?
No Colégio São Domingos somos catadores, buscadores das existências mínimas.
Queremos pensar sobre o pensamento, colocar em movimento a sensibilidade, compartilhar experiências que nos arrastem para uma nova paisagem, uma geografia do infinito.
”O pensamento com o vento” diz Spinoza, o pensamento que não corrige mas intensifica, expande, como uma experiência da qual não se sai imune.
O pensamento não é propriedade de um sujeito, não está sob controle, não é linear e nem tem uma história de progresso.
É nômade, indomável, nos atravessa, deixa rastros.
É urgente desmontar o pensamento pronto!
Queremos reunir estilhaços, criar mosaicos e caleidoscópios.
A Educação não é meta, mas possibilidades.
Nos movemos na direção contrária à gregariedade, à homogeneidade, à domesticação e à padronização.
Queremos nos desviar do rebanho, deixar rastros, cantar, dançar, celebrar encontros, formular novos problemas e não simplesmente responder ao que nos dizem ser as prioridades.
Temos um pensamento rebelde, navegamos no contrafluxo, rumo às nascentes, por canais que suportam pequenas canoas e remontam ao primordial e ao necessário.
Cada um de nós busca as suas próprias nascentes e possibilidades, múltiplos caminhos e atalhos são vislumbrados sem a obrigação de segui-los.
É preciso, apenas, uma vontade de beleza e ousadia para buscar caminhos.