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Seminário: Ainda dá tempo de adiar o fim do mundo?

A pandemia de covid-19 fez interromper, na prática, muitos fluxos. Algo impensável noutros tempos. A representação da vida com acento na produtividade fez-nos crer que o moto perpétuo é sua condição. O tempo na contemporaneidade, mais e mais, aboliu intervalos. Vivemos como o coelho de Alice, na fábula de Lewis Carroll, lamentando o atraso crônico.

Isso tem muitas implicações para nossas vidas. A presentificação da existência, a desvalorização das experiências vividas, a tendência a abolir a fruição contemplativa e seu par ideal que é a reflexão. Sem passado que importe, futuro também é posto em liquidação. Utopias? Idealizações? Essas deixaram de fazer parte do cardápio atual. Guarnições importantes para ajudar a digerir o “pê éfe” ordinário, tornaram-se dispensáveis em nossa atualidade?

Num repente, o corte!

O próprio vocábulo quarentena, que já não se restringia ao emprego literal, encontra-se mais ainda alterado na atual semântica. Já vamos para seis meses de “quarentena”. Expressão de um tempo que se alongou. Duração que se dilatou. Se encheu de lapsos, suspensões. Desconstruiu o mito da inexorabilidade do contínuo e da aceleração. Ou não?

Essa nova condição nos coloca diante de novas representações do tempo: de homogêneo e inteiramente estofado, pode passar a ser pensado como oco, lacunar, como categoria não dada a priori, mas a construir? Tempo a ser feito... Podemos problematizar os vazios de tempo e imaginar como ocupá-los? Como desafio, podemos nos posicionar na pausa? Somos convocados a interpelar as subjetividades. Esse deslocamento compulsório nos desencrava do mesmo?

Produzir pensamentos para melhor compreender esse fenômeno e tirar dele referências para uma revisão ética é oportuno e fundamental.

Novas formas de pensar é que nos darão abertura para outros modos de sociabilidade, para a formação de comunidades do composto, das diferenças, voltadas para o cuidado e a justiça.

O propósito é refletir para criar um tempo em que tenha lugar a crítica da servidão voluntária que facilita o sequestro de nossas disponibilidades sob o apelo da produtividade sob a ilusão de “empreendedorismo”, estabilidade e progresso (individual e social). Quem sabe conseguimos pensar um tempo virtual (prenhe de possíveis)...

Esse é o contexto para a nossa iniciativa de propor um seminário com intervenções de pensadores que têm se debruçado sobre esse momento de exceção buscando localizar ali pontos de fuga, frestas que nos possibilitem respirar – biológica e intelectualmente.

O próprio título para essa sequência é provocativo. Apropriação indébita da expressão original de Krenak – Ideias para adiar o fim do mundo é um de seus livros –, ganhou ainda distorção para melhor nos servir. No título do seminário a categoria tempo está tensionada sob o signo da incerteza: Ainda dá tempo? Desejo de adiar? Fim dos tempos? Tudo isso é problematizável. Bingo. É o que pretendemos com as intervenções programadas.

Programação

Peter Pál Pelbart
Peter Pál Pelbart é filósofo, ensaísta, professor e tradutor do francês e do húngaro. Graduado em Filosofia pela Universidade Paris IV, é mestre pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, doutor em Filosofia, pela Universidade de São Paulo e livre-docente pela PUC-SP.

Link para gravação:

Eduardo Neves
Eduardo Góes Neves é arqueólogo e um dos principais pesquisadores atuantes na Amazônia, principalmente nos arredores de Manaus, no estado do Amazonas. Graduado em História pela Universidade de São Paulo, Mestre e Doutor em Arqueologia pela Universidade de Indiana e Livre-Docente pela Universidade de São Paulo. Professor Titular de Arqueologia Brasileira do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo, onde é vice-diretor.

Assista ao vídeo: Seminários na USINA - Eduardo Neves

Denise de Sant’Anna
Denise Bernuzzi de Sant'Anna é pesquisadora de temas que relacionam corpo e subjetividades contemporâneas, é professora livre-docente de História da PUC-SP. Possui graduação e mestrado em História pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Diploma de Estudos Avançados em História pela Université de Paris VII, Doutorado em Histoire des Civilisations Occidentales pela Université de Paris VII. Realizou Pós-Doutorado em História na EHESS.

Link para gravação:

Maria Rita Kehl
Psicanalista, doutora em psicanálise, jornalista, ensaísta, poetisa, cronista e crítica literária brasileira. Em 2010, venceu o Prêmio Jabuti de Literatura na categoria "Educação, Psicologia e Psicanálise" com o livro O Tempo e o Cão - A Atualidade das Depressões e recebeu o Prêmio Direitos Humanos do governo federal na categoria "Mídia e Direitos Humanos". Entre outros livros, é autora também de títulos como Deslocamentos do Feminino e Bovarismo Brasileiro. Integrou a Comissão da Verdade, que investigou os crimes cometidos durante o regime militar no Brasil.

Assista ao vídeo: Seminários na USINA - Maria Rita Kehl

Ailton Krenak
Ailton Alves Lacerda Krenak é ambientalista e escritor brasileiro. É considerado uma das maiores lideranças do movimento indígena brasileiro, com grande reconhecimento internacional. Seu sobrenome enuncia a etnia indígena de sua origem. É autor de livros como O amanhã não está à venda, A vida não é útil, O lugar onde a terra descansa e Ideias para adiar o fim do mundo.

Assista ao vídeo: Seminários na USINA - Ailton Krenak

Vladimir Safatle
Desenvolve pesquisas nas áreas de: epistemologia psicanálise e da psicologia, desdobramentos da tradição dialética hegeliana na filosofia do século XX e filosofia da música. Graduação em Filosofia pela USP e graduação em Comunicação Social pela ESPM, mestrado em Filosofia pela USP e doutorado pela Université Paris VIII. Atualmente é professor titular de Filosofia da USP. É um dos coordenadores da Internacional Society of Psychoanalysis na Philosofy, do Laboratório de Pesquisa Social em Teoria Social, Filosofia e Psicanálise (Latesfip) e presidente da Comissão da Comissão de Cooperação Internacional (Ccint) da FFLCH- USP.

Assista aos vídeos:

Seminários na USINA - Vladimir Safatle - PARTE I
Seminários na USINA - Vladimir Safatle - PARTE II

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