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 Percorrendo rios internos, as crianças dos terceiros anos do Colégio São Domingos têm sido provocadas a confrontarem-se com seus sentimentos mais profundos, por vezes inomináveis. Vazios, tristezas, alegrias, raivas, "descontrolações" e correntezas são alguns entre tantos outros que nos atravessam e nos transformam. Ao mergulharmos nessa jornada, caminhamos para uma escrita autoral e pessoal, materializada em um diário, suporte potente para que as crianças possam narrar seus sentimentos e expressar o que muitas vezes é inenarrável.

Esse percurso nos levou à exímia escritora Carolina Maria de Jesus que, em um de seus romances mais famosos, "Quarto de despejo: diário de uma favelada" (1960), desafiou todas as expectativas que uma sociedade racista e desigual poderia ter sobre uma mulher negra, moradora da periferia, catadora de papel. "Um dia apoderóu-se de mim um desejo de escrever - escrevi".

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Carolina Maria de Jesus muito nos ensina quando se utiliza da escrita para se expressar, dando vazão aos seus sentimentos e narrativas, a partir do seu diário. Fez pleno sentido, portanto, as crianças visitarem a exposição “Carolina Maria de Jesus: Um Brasil para os brasileiros”, exibida no Instituto Moreira Salles até abril deste ano. Os terceiros anos mergulharam em suas escritas e em sua história, foram provocados a refletir sobre o que nos distancia e, sobretudo, sobre o que nos aproxima de Carolina.

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Inspiradas e inspirados, as meninas e meninos do 3º ano B escreveram cartas simbólicas destinadas a Carolina, expressando o que aprenderam com ela e realizando um exercício de conexão com a autora, por meio de perguntas sobre sua vida e seus interesses. Esse processo de produzir cartas para Carolina, vale o destaque, teve como antecessora a antilhana Françoise Ega, que, entre 1962 e 1964 escreveu uma série de cartas, jamais entregues, destinadas a Carolina, nas quais relatava o seu cotidiano de trabalho e de exploração na França; dessa reunião de escritos nasceu o livro “Cartas a uma negra”.

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O desejo de montar uma exposição com essas cartas partiu das crianças, como uma forma de devolver à comunidade do Colégio São Domingos tudo aquilo que aprenderam e que as atravessou nesse processo. No mês de maio, instalamos nossa pequena exposição no casarão, ao lado da lareira, para relembrar e homenagear Carolina Maria de Jesus e nossa trajetória ao seu lado.

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