Ao vencedor, as bananas!
Surgiu um viaduto, é progresso
Eu não posso protestar
Adeus, berço do samba
Eu vou-me embora
Vou sambar noutro lugar
“Vou Sambar Noutro Lugar”
Geraldo Filme
‘’- Batata ou Banana?’’
‘’- Eu conheço Largo da Batata, mas Banana? Nunca ouvi falar!’’
Foi assim, com grande murmurinho, dúvidas e risadas que convidamos os alunos a conhecerem o Largo da Banana como parte do projeto CSD Ocupa SP.
O lugar é próximo ao Memorial da América Latina, na Barra Funda, mas perguntando para as pessoas, poucas tem referência da sua localização e de suas histórias!
Lá no Largo, no início do século 20, os negros se reuniam aguardando a chegada do trem que trazia mercadorias do interior para a capital paulista. Enquanto o trem não chegava, jogava-se conversa fora, além de cartas, dadinho, capoeira ou uma cantoria de samba. Resistência negra.
O tempo passa, a cidade muda, as pessoas mudam e, por mais que tentasse resistir... surgiu um viaduto e onde antes era ocupado por encontros, hoje resta um monte de entulho.
O sambista Geraldo Filme era uma dessas pessoas, juntamente com a sua família. Lá cresceu, tornou-se compositor, morador e, mais adiante, foi obrigado a deixar o espaço para a chegada do viaduto que fez com que a Avenida Pacaembu construísse seu fluxo.
O tempo é assim, segue um fluxo... reescreve-se sobrepondo.
Partimos com os estudantes dos 5º anos com suas sacolas feitas com tecidos catados no colégio que já tinham histórias, pinturas, textos e que foram construídos com costuras e bordados para, desta vez, estar na cidade e capturá-la como respigadores, guardando na sacola o que salta aos olhos, o que pode nos contar histórias de tempos e lugares.
Ver nascer essas sacolas costuradas pelas mãos de meninos e meninas foi ver nascer caminhos.
Uma saída investigativa não nasce assim, sem fundo. Foram quase 2 horas andando, às vezes o percurso proporciona sorte. De repente, cresce diante de nós um grafite feito por uma indígena da comunidade Tukano, em outro um pássaro anuncia: “me deixa ser”!
O ponto de resistência negra, também mudou. Não acreditamos que as memórias desapareçam, mas que se criem outras narrativas sobre aquelas que existiam em outros tempos. E dessa vez nos propusemos a criar também uma história nova nesse lugar. Em lambes espalhados pelos postes dos arredores convidávamos as pessoas para que carregassem consigo um pedaço do samba de Geraldo.
Homenagear esse compositor brasileiro é, para a gente, mais do que trazer uma singela representação a uma praça.
Recentemente Geraldo volta a ocupar aquele espaço - de uma outra maneira, claro! Agora como uma escultura, em uma (re)construção das gestões públicas e das políticas afirmativas.
Sem indicação, sem nome, sem data - uma criança nos diz que uma escultura sem suporte sobre seus pés, que a pudesse erguer, era quase uma escultura sem sapatos, enraizada.
Quem não podia usar sapatos em anos outros?
Voltamos e, assim como Geraldo, ocupamos aquele espaço que deixou de abrigar o samba desde 1950, mas que fez nascer grandes agremiações e foi lugar de inspiração para muitas composições sobre nossa cultura.
Hoje esse lugar nos inspira a investigar camadas sobrepostas por histórias contadas por outras pessoas contadoras de memórias. Com pequenas telas recolhemos das paredes do viaduto, a matéria da memória.
Sejamos caminhos brincantes, dançantes e sambadores nesse e em outros lugares.
Precisamos ser...
Ser crianças nas ruas, estudantes além da escola, ser caminhos sinuosos, ser esquinas e encontros.
E lá fomos nós ao encontro daqueles que em tempos outros também se encontravam para (re)existir.
O Largo da Banana era nossa vontade!
Yes, nós temos bananas!
Convidamos todos os familiares para que compartilhem essa ocupação conosco. Clique aqui
Maio de 2022.
Equipe de Coordenação e Professores dos 5ºanos