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O Conselho de Escola do CSD foi reunido extraordinariamente no mês de agosto para refletir sobre a oportunidade ideal de retorno às aulas presenciais, conforme anunciamos no início desse semestre.

O tema vem sendo debatido socialmente e ganha corpo o posicionamento de vários setores contrários aos encaminhamentos governamentais que se submetem a pressões, de ordem principalmente econômica, para franquear a reabertura de escolas e receber alunos, professores e funcionários presencialmente.

Entidades representativas de escolas particulares têm liderado o lobby político com essa demanda, afirmando que esse setor tem condições de garantir segurança a todos por adotarem os protocolos sanitários. Em geral, a Justiça tem bloqueado tal intenção.

A Direção do CSD, como comunicado anteriormente, não entende da mesma forma. Por ter clareza de que a adoção dos protocolos oficiais não assegura imunidade aos atores da cena educativa, não participa desse grupo de pressão. O momento requer ponderação e responsabilidade.

Por isso, convidou para nutrir a reflexão na Comunidade CSD dois médicos infectologistas, a enfermeira–chefe da UTI do Instituto do Coração e duas jornalistas de órgãos de imprensa publicamente reconhecidos (Estadão e GloboNews) que dão cobertura à evolução da pandemia e às medidas oficiais que vêm sendo adotadas. Todos com filhos no CSD. Essas contribuições vieram a se somar à live com dr. Dráuzio Varella sobre a mesma questão promovida no primeiro semestre pelo CSD.

Com análises tecnocientíficas e dados mundiais e da realidade local onde atuam os profissionais de saúde que estiveram conosco, a unanimidade foi de que enquanto não se alterar a situação de risco atual (declínio significativo da curva de contágios e mortes e desenvolvimento de vacinas), mesmo que se faça viável a testagem sorológica em massa, não há segurança para o reinício de aulas presenciais. Considerou-se que o círculo de contatos de cada indivíduo seria ampliado, fazendo elevar progressivamente junto ao coletivo escolar as chances de contaminação. Se até outro dia acreditava-se que a incidência de desenvolvimento de doenças causadas pelo covid-19 em crianças era menor ou menos grave, soubemos pelos convidados de casos de crianças e adolescentes em estado bastante grave internados nas unidades de saú ;de em que atuam. Pesquisas e projeções mundiais mais recentes também difundem dados muito preocupantes relacionados a serem as crianças portadoras de alta carga viral e à probabilidade de contágio entre professores, funcionários e alunos após 60 dias de aulas presenciais chegar a 46%.

As jornalistas presentes comunicaram os bastidores das tomadas de decisões pelas autoridades públicas e o quanto são baseadas exclusivamente em estatísticas de risco. Porém, exemplificaram, risco médio em estatística significa tão somente que diminuiu o número de pacientes com covid-19 em relação ao de leitos de UTI disponíveis no local (em média, tanto que o INCOR apresenta ocupação de 100% de seus leitos). Nada garante que não sejam integrantes de nossa comunidade os atingidos pela pandemia e nem que ao serem recebidos em UTIs sairão saudáveis após o tratamento. Aliás, na perspectiva ética, foi esse o ponto alto do encontro. Uma ética do cuidado tem que levar em conta a responsabilidade coletiva. Sabemos que, em caso de contágio na escola, os vários atores não terão acesso igual a tratamentos e hospitais.

“É uma loteria”, concordaram os presentes. Tanto a propagação quanto a gravidade que os acometidos pelo contágio podem vir a apresentar é randômica, aleatória, imprevisível. O vírus atua sistemicamente e, hoje em dia, não é possível afirmar que conhecemos todos os efeitos dele no organismo humano. Mesmo pessoas com alta hospitalar podem apresentar complicações em órgãos que pareciam não atingidos durante a internação. E foram citados estudos que indicam ser possível que o vírus em questão não seja completamente neutralizado pelos tratamentos recebidos pelos pacientes acometidos. Estudos apontam que ele pode comportar-se como no caso de herpes, que quando combatidos com antivirais perdem potencial ativo por um tempo, até que haja nova queda de imunidade no organismo atingido.

Considerações biomédicas, macropolíticas e éticas feitas, a posição consensual entre os nossos convidados foi de que, conhecedores dos riscos, não mandarão seus filhos à escola presencial enquanto não ficar demonstrada segurança para o coletivo. E a recomendação à comunidade não poderia ser outra.

Essa também foi posição de professores presentes: não assumir o trabalho presencial nas condições ainda preocupantes. A preservação de vidas é que deve ser prioritária.

O encontro foi referencial para que confirmemos a prudência e não tenhamos ansiedade para o retorno. Obviamente, contribui para esse nosso posicionamento dissonante em relação à reivindicação de muitas outras escolas particulares o fato de que temos desenvolvido, mesmo à distância, um trabalho pedagógico consistente, sem abrir mão da concepção de enredamentos de conteúdos que asseguram significatividade de temáticas e investigações, com acompanhamento personalizado da evolução dos aprendizados. Êxito reconhecido interna e externamente. A intenção de migração de alunos de escolas geralmente bem-conceituadas para a nossa tem sido assim sustentada. Demanda de educadores de muitas regiões do país para que multipliquemos nossas concepções e práticas com oferta de formaç&at ilde;o é também indicadora de nossos acertos.

Torcemos para que todos continuem cuidando de si e dos próximos. E torcemos também para que esse pesadelo social dure o menor tempo possível.

Com a amizade e cordialidade de sempre,

Silvio Barini Pinto
Direção