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E nos dão dicas do que funciona mais nas suas casas.

Uma mãe com um filho no 4º, outro no 9º ano e outro no Ensino Médio revela as dificuldades e desenvolturas específicas de cada um. Interessante que são as mesmas que observamos também em classe. Várias famílias com mais de um filho narram a experiência de cooperação que ocorre entre eles nos momentos de trabalho. Alguns vídeos enviados por alunos de pouca idade nos emocionam pela forma poética de revelar conteúdos acadêmicos, mas também de expressar suas visões do momento que passamos.

Crianças que não fazem Usina têm entrado no blog do semi-integral e participado dos projetos ali em andamento com envio de suas realizações aos educadores – que de início ficaram confusos, mas logo viram que se tratava de um salto de implicação com a escola. Eles recebem retornos e orientação assim como os demais alunos integrantes daquele segmento. Nas oportunidades de reunião dos grupos-sala, é comum o resgate espontâneo de aprendizagens anteriores ao período de recolhimento forçado como repertório para a execução de novas propostas. Isso significa a manutenção do aprendido para avançar noutras camadas de conhecimento, uma de nossas preocupações.

Com a comunicação a distância, o uso da leitura e linguagem escrita aumentou entre todos, mas entre os alunos que estavam na fase de aquisição desse código verificou-se avanço importante, o que confirma a hipótese dos educadores de que situações significativas (que nesse momento estão associadas à necessidade) é que alavancam o desenvolvimento da linguagem e não o treino, a mecanização.

Coordenadores e tutores estão atuantes na troca de e-mails com os familiares. A situação inédita nos coloca um desafio também inédito, especialmente para com alunos mais novos que dependem dos familiares para acesso digital e organização: precisamos mandar às famílias mais orientações e um pouco de making-of das atividades. Os alunos têm o contexto do que estamos trabalhando, mas as novas linguagens em que o material aparece pode confundi-los um pouco, por isso a necessidade de explicitação dos objetivos das propostas também para as famílias poderem ajudá-los.

Agora, mesmo os adultos mais afinados com nosso modo de trabalho perceberão que as formas como agenciamos os conteúdos em redes, com conexões significativas tem pouco a ver com os formatos de aprendizagem que tiveram em sua escolaridade básica. Algum estranhamento é previsível. Para resolver isso, podem contar conosco. Temos trabalhado muito, mas estamos disponíveis para ajudar.

Da parte de nossos educadores, o progresso que conquistamos no domínio das possibilidades das plataformas digitais tem chamado a atenção de muitas escolas, várias delas de grife, daquelas que propagandeiam ser high tec. Preferimos ter um projeto que articula conhecimento de maneira afinada com o devir, sem desvios mercadológicos.

O mais comum no meio educativo tem sido a transposição do regime de aulas presenciais para o meio digital. Algumas até mesmo seguem o horário de distribuição das aulas a cada 45/50 minutos. Gravam explicações e pedem exercícios para testar entendimento a serem postados quase imediatamente. Contato com professores, só excepcionalmente.

Nós temos lançado mão de podcasts, de reuniões com alunos e eventualmente com familiares juntos, de vídeos para serem assistidos em momentos diversos e revisitados se for o caso, plantões de dúvidas, chats, e-mails, enfim, não economizamos esforços para dar o melhor de nosso trabalho, ainda que reconhecendo que nada substitui a educação presencial. Porém, não cederemos à falácia de que a imediatez comunicativa seja uma marca de competência. Tempo de processamento, ponderação e reflexão é recomendável a todos.

Por concebermos sistemicamente o conhecimento, o trabalho ora desenvolvido parte de um patamar consolidado que favorece a construção das aprendizagens mesmo fora do registro usual.

De tudo isso sai um bom caldo: não apenas articulamos o conhecimento em rede, mas formamos com a comunidade ampliada uma rede de sustentabilidade subjetiva. Apoio recíproco afirma nossos princípios de cooperação e produção coletiva de aprendizagens.

E la nave va. Se não temos o contato humano que nos é essencial, ao menos cuidamos, a distância, da nossa fração de humanidade para que, ao superar essa crise, saiamos mais fortalecidos nas relações, na integridade, na condição ética. Nada do que está ao nosso alcance para vencer as dificuldades momentâneas e aprimorar o efeito de nosso trabalho nessa circunstância deixa de ser feito. E isso inclui o esforço dos familiares. Nossos laços se estreitam ainda mais. Motivo de alegria.

Silvio Barini Pinto

e la nave va