Fica atrás de mim e da mãe (na verdade ela é a preferida, eu quebro o galho) para que mantenhamos sua animação durante o dia todo. Acompanha minha escrita aos berros ou intervindo no teclado. Fazemos reuniões com ele no colo. Ora um, ora outro. Corre, faz comidinha, ou ele já mamou? Reajo ao sinal do telefone. Chegou e-mail que deixarei esperando. Mas a mensagem no whatsapp não pode aguardar. Começo a escrever. Ao mesmo tempo, um convite(?) para uma teleconferência urgente. Não! Martim, não suba dessa maneira na beirada da cama. Claro, estou vendo aqui a atividade que você propôs e ela tem a ver com o texto que está sendo lido por alunos do 8º ano. Vamos fazer uma conexão. Você fala com a professora? Desculpe, estava noutra tela. Agora podemos falar. Penso que se usarmos o Zoom em vez do Hangout ganhamos em estabilidade para os encontros virtuais com os professores. A que horas está marcado? Martim, querido eu sei que quer atenção, mas segura um pouquinho. Sim li a carta. Pensou alguma coisa? E o que vamos almoçar? Pensei em brincar um pouco com o filhote. Uma lasanha requer frios. A padaria está fechada. Use máscara! Preciso inventar algo para fazer com o pequeno, ele não para de protestar. Lavou a mão? Minha próxima hora será dele. Ai, se a escola tivesse mandado atividades... Gente vou mandar um áudio porque não estou conseguindo escrever com criança chorando no colo.
Não é o melhor dos mundos receber atividades escolares a distância. Mas qual seria a alternativa em tempos de exceção absoluta como o que estamos vivendo? Estamos apenas há poucos dias nesse regime. Já deu para ver que não é fácil. O conjunto! A condição toda é estranha. Não se trata de as atividades escolares serem o castigo dos deuses. A loucura é muito maior. Ainda bem que a escola que eu trabalho manda atividades para os alunos que estão em casa. Assim eles têm uma fresta para respirar outros ares que aquele saturado do lar fechado e redundante. Aos poucos as crianças vão precisando menos dos adultos, ficam mais independentes na realização das propostas. E, também, aos poucos, a gente vai equilibrando essa rotina maluca que o isolamento nos impõe e que não é criada pela escola.
Certa excitação se mistura ao desespero quando da necessidade de mudança abrupta como essa. A única saída é ter calma. Quem ceder à aflição logo tombará. E pode arrastar outros consigo. Talvez nos ajude a acalmar ver o ensaio fotográfico de cenas de alunos ás voltas em suas casas com as atividades enviadas pelo CSD, ou assistindo explanações em vídeo e/ou interagindo em fóruns. Quem sabe. Ao menos as belas imagens de crianças e jovens devem nos enternecer... Boa noite!
Martim, eu queria mesmo que não fosse um cocô o que você fez bem aqui no meu cantinho de trabalho...