some text
some text

Por ocasião do aniversário do Colégio São Domingos em 2010

Quero agradecer a todos que atenderam ao convite para esse encontro que tem como motivação os 50 anos da trajetória educacional do CSD.

Sua história começou com setores do bairro de Perdizes organizados para criar uma instituição alternativa para educar suas crianças e jovens.

A essa iniciativa, ao longo de 50 anos, uniram-se tantas pessoas que nem mesmo um grande auditório seria capaz de acomodá-las. Gente muito comprometida e competente esteve e está envolvida com este projeto educativo. São todos coautores desta obra aberta que é o CSD. Uma seleta multidão.

Aí está a riqueza desta escola e seu diferencial: faz-se a si mesma continuamente, sem desviar-se dos princípios fundantes – permanece fiel a sua origem comunitária e continua alternativa frente a muitos arroubos mercantis e utilitaristas que marcam a cena educacional em nosso tempo.

Por isso, vigor e juventude são traços que cultivamos aos 50 anos.

Temos determinação para atuar consistentemente na formação de sujeitos inquietos com a realidade social, mas também proponentes de soluções que apontem para a sustentabilidade da espécie humana num planeta abalado pelas tantas voracidades de consumo.

Apoiamo-nos, para isso, na qualificação de nossos educadores, no suporte que nos presta a Associação Cultural São Paulo, mantenedora do CSD, na participação construtiva das famílias que optam por dividir conosco a educação de seus filhos, nos próprios estudantes que não cansam de nos ensinar. Apoiamo-nos, sobretudo na clareza e comunhão de objetivos de todos esses atores institucionais.

Destaque é devido à equipe de professores, aos funcionários administrativos e à equipe de coordenadores que pensam e, com coerência e responsabilidade profissional, articulam o pensamento na prática cotidiana.

Tanto acento no coletivo, não abole as subjetividades individuais. Ao contrário. Aqui, a manifestação subjetiva é incentivada desde 50 anos atrás. É ela que empresta energia vital aos fazeres comunitários.

Valendo-me pois desse éthos da escola, deixo aqui, nas palavras que seguem, o registro pessoal de minha presença como diretor atual do CSD.

Cito uma frase: “Estou cansado. Sinto que tenho mil anos” – essas são palavras que ressoam em minha memória desde que as li em um historiador. Ele acabava de percorrer as fontes da história da fase medieval de seu país e fazia uma pausa antes de ir em frente. Ele sentia ter vivido a história pesquisada. Misturava-se a ela.

Estou animado, sinto que tenho 103 anos! Este sou eu que somo minha idade aos anos do CSD. Este gênero de embaralhamento de tempos, para o historiador ou no meu caso, caracteriza um quase mimetismo entre o sujeito e a instituição – ele e a história ou eu e o colégio.

Esses tempos cruzados podem ter sido vividos em paralelo, sobrepostos ou complementarmente. No meu caso com o CSD é fácil reconhecer extensões, pontes, dutos de conexão entre minha história e a dele.

Isso é acaso.

Afinal, o mimetismo construído acontece mesmo é no dia a dia. No tanto que sou absorvido e absorvo CSD. A pulsação da escola dá o ritmo da respiração. O saber dos outros acolhe meus saberes e ignorâncias. A energia dos alunos injeta coragem. O apoio e a torcida das famílias animam. Estou entre amigos. Em torno de um projeto de educação sério e consistente, buscamos juntos um pouco de felicidade. Alerta: isso vicia.

Mas é vício de virtude. Então pode!

Mais do que a felicidade, que é rara e fujona, o que dá liga mesmo nessa mistura é o buscar juntos. Mais do que ter 103 anos, é fabuloso sentir-me misturado a tantos quanto somos em comunidade. Vivo esse presente.

Velho e múltiplo. Eis o que estou projetando para mim mesmo. Que sonho de felicidade!

No mergulho que fizemos no acervo de fotografias para dar início ao livro dos 50 anos do CSD, constatamos que esta escola registrou-se em inúmeras imagens, ao longo do tempo, como lugar de participação alegre, como coletivo integrado, e isso fala do desejo daqueles que a ajudaram a existir. Percorrer essas fontes faz produzir a pergunta em mim: como eu não estava ali?

Por acaso.

Vivi então, somente agora, aquele passado do CSD. Intensamente, por suposto. Dessa maneira, entro em sincronicidade com mais todos aqueles que, desde o início, construíram essa história com muita implicação, entrega. Mais gente ainda em minha vida! Felicidade!

Desejo felicidade para a multidão que nós todos constituímos! Longa vida ao CSD que agrega e cultiva nossa multidão! Longa vida!

Silvio Barini Pinto