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Rosely Nakagawa, avó de Miguel e Bernardo, mãe de Alice Matuck, educadora do CSD, é curadora independente, arquiteta pela FAUUSP, com especialização em Museologia, também pela USP, criou a primeira galeria de Fotografia em São Paulo, a Galeria FOTOPTICA, com Thomaz Farkas, em 1979. Coordenou a Casa da Fotografia FUJI, com Stefania Bril, foi curadora das galerias Fnac, e atualmente ministra o curso O Papel do Curador, no Centro Cultural B_arco.

Pois não é que dentre tantos afazeres, Rosely encontrou uma tarde para dedicar-se aos alunos do Núcleo de Artes do CSD? Dispositivos variados de olhar, desde ‘pinholes’ (aparelhos visuais artesanais, sem lentes, que simulam o funcionamento das câmeras analógicas utilizando ainda películas sensíveis para o registro de imagens), serviram para disparar o interesse dos alunos sobre fotografia, tanto do ponto de vista técnico quanto da concepção estética.

Foi assim que teve início a Oficina O que é a Fotografia - a partir do olhar, a luz e a descoberta, com Rosely no comando. E foi a ela que recorremos para fazer o relato da experiência – “Assim como a luz que entra pelos olhos em imagem invertida, aqui invertemos a lógica do nosso relato e propusemos o olhar do outro, o visitante, para nos contar sobre o encontro com os alunos dos 5º B eC e grupo de 7os anos”, propõe poeticamente Elô, a coordenadora do Núcleo de Artes.

“Apresentamos algumas relações tendo como início a indagação do que pode ser a FOTO-GRAFIA? Alguns alunos presentes definiram bastante bem o que poderia ser, sendo que alguns já tinham ouvido falar, ou mesmo sabiam com precisão do que se tratava.

‘Fotografia é o que meu tio faz’, diz um deles. “FOTO – Luz, GRAFIA – Escrita, decompõe a expressão um outro. ‘O filme analógico tem uma gosminha’, revela um terceiro aluno. E assim foi... Partimos então primeiro para a exploração da luz: de onde ela vem, como ela interfere no olhar, como podemos controlar sua ação e aparição. Fechando os olhos, escurecendo a sala, começamos a notá-la pela ausência. Numa mágica sem mistérios, a lanterna, com facho de luz direcionado, desenha sombras e pode mudar a forma. A partir da ausência da luz, o olhar fica mais sensível e percebe com acuidade o que antes era óbvio demais. Disso pudemos pensar que fotografar é também colocar em evidência o que não se releva a olhos nus, ao menos aos desatentos.

 Mas como este olho funciona? – foi um novo problema descoberto. A íris abre e fecha de acordo com a necessidade de adaptação à quantidade de luz. Quando vem uma luz na minha direção, imediatamente me defendo fechando os olhos. Dessa afirmação, pudemos desdobrar abordagens sobre a lente dos olhos e a inversão da imagem; a câmera obscura. ‘Ei, mas como surge essa máquina chamada câmera? ’ ‘De onde ela vem? ’ ‘Por que ela foi sendo investigada e por quem? ’ Pronto, oportunidade para conversar sobre o percurso da imagem desde o espelho mágico da China à Tavoleta do pré-renascimento; falar sobre o olhar do pintor Daguerre (Louis Jacques Mandé Daguerre, 1787-1851) e sua disposição de registrar a passagem do tempo, da luz, da abstração da paisagem, ou seja, de promover um novo tipo de percepção sensível do mundo. De Daguerre, partimos para o desenvolvimento técnico do artista gráfico Niépce (Joseph Nicéphore Niépce, 1765-1833) que pesquisou as possibilidades de reprodução das imagens registradas – lembramos das técnicas de xilogravura, gravura em metal, litogravura que atendem às necessidades de reprodução da imagem e a difusão do conhecimento, desde a descoberta da impressão (Gutemberg, séc. XV).

Ajustando nosso foco, pudemos colocar em grande plano a revolução trazida pela fotografia, para além da técnica: a consciência do domínio do ‘campo’, a escolha do que registrar, ou seja, a experiência consciente do ‘enquadramento’.

Nosso encontro ainda proporcionou descobrir a câmera de orifício e a lente; a lente, sua relação com o feixe de luz e a inversão da imagem – ‘Pura mágica’; a distância focal e a luz; explorar o escuro e o claro; a distância e o enquadramento; o registro da imagem positiva e negativa e a importância da ‘gosminha’ no registro e fixação da imagem; conceitos de física ótica, conceitos de composição, conceitos de geometria...

Para encerrar, sem esgotar, tenho prazer em dizer que tudo isso ainda pôde ser explorado no escuro com muita alegria, na relação com o outro. Pois brincamos de fazer a eleição do detalhe significativo do outro, que o destaca e dele me aproxima.

Muita coisa pra deixar assentar e gerar mais indagações.

Amei !!!!”